Filho de filiada do SISTA/MS é eleito Mister Trans!
Alex Clemente, filho da filiada do SISTA/MS Dayse Clemente, foi eleito em 1º lugar no 2ª Concurso Mister Trans MS, que foi realizado no dia 16 de julho/22, no Teatro Glauce Rocha, no campus da UFMS da Capital, sendo o primeiro concurso a implementar a categoria Trans Plus Size no repertório em relação a outros Estados brasileiros e como símbolo de orgulho e representatividade, sendo vencido por João Vilela, 1º Mister Trans Plus Size em MS.
O concurso Mister Trans MS 2022 foi realizado pelo Instituto Brasileiro de Transmasculinidades de MS (IBRAT-MS). Foi o primeiro do Brasil a realizar concurso pautado somente nas belezas transmasculinas, dando abertura a outros estados. Em 2021, por exemplo, ocorreu o Mister Trans Brasil.
Alexandre ganhou o juri e a sua torcida estava extremamente organizada, assim como a de João Vilela ambos foram muito merecedores do 1° lugar.
Você sabe o que é Trans? Você sabe o significado de LGBTQIAP+? Se surpreenda com a entrevista de Alex e João!
Um mundo mais informado é um mundo mais justo!
Veja a entrevista exclusiva com os vencedores do Mister Trans MS, Professor Alexandre Clemente e o Psicólogo João Vilela.
SISTA/MS – Durante nossa conversa vocês disseram que o Trans necessariamente não é um homossexual, ele pode ser hétero e monogâmico. Mas o que é uma pessoa Trans?
Alex Clemente João Vilela – O termo trans é utilizado para se referir a uma pessoa que não se identifica com o gênero ao qual foi designado em seu nascimento. Quando nascemos, nossos gêneros são determinados pelo nosso sexo. Assim, uma pessoa que nasce com o sexo masculino é considerada homem e uma pessoa que nasce com o sexo feminino, como uma mulher. Contudo, algumas pessoas percebem que se identificam com outro gênero e passam a viver como assim desejam e se sentem melhor consigo mesmas. O termo é utilizado como um “termo guarda-chuva” e se refere a todas as pessoas com identidades trans: transexuais, transgêneros, travestis, pessoas não binárias, etc.
SISTA/MS – A pessoa Trans pode fazer uma intervenção cirúrgica para mudança de sexo?
Alex Clemente e João Vilela – Sim. Cada um se adequa à identidade de gênero como acha melhor. Muitos vão da terapia hormonal à cirurgia de redesignação sexual, mas isso é pessoal e depende do financeiro de cada um.
SISTA/MS: Alex, como você se descobriu Trans?
Alex Clemente– Minha transição começou em 2019, me atualizando sobre o assunto Trans aos 19 anos, até porque, como a comunidade de homens Trans não é tão visibilizada eu não tive tanto acesso aos assuntos sobre nós, que somos diferentes para a sociedade. Tive meu primeiro contato, eu procurei uma psicóloga para ter o acompanhamento e estudar mais sobre mim, poder ter mais um contato interno comigo mesmo. Fiz todos os tramites para a hormonioterapia, com acompanhamento médico.
SISTA/MS: E a família?
Alex Clemente– Ah, a família (risos)... Meus pais são espetaculares sempre me apoiando, me incentivando a cursar a área da Educação Física para poder cuidar do meu corpo – por conta dos hormônios – além da terapia para cuidar da cabeça e para enfrentar aqueles da nossa sociedade que ainda não entendem o que é ser Trans, e os cuidados para não chegar à depressão ou até mesmo ao suicídio.
SISTA/MS: João, você é um homem Trans e casado com uma mulher linda, a Luara Diniz. A sociedade te olha de uma forma diferente?
João Vilela – Não é porque sou um homem Trans que sou homossexual ou “sem pudor”. Sou homem trans, esposo e pai e temos que nos importar com a valorização de todos os tipos de corpos e minha esposa Luara sempre me compreendeu e esteve sempre presente na minha vida. Somos amigos de infância e o destino e o amor acabou nos unindo. Temos que lutar para sermos o que realmente somos. Não vejo a sociedade me olhando tão diferente, apesar de vivermos num estado conservador.
SISTA/MS: João, como você se descobriu Trans?
João Vilela – Então, aos meus 23 anos de idade decidi me assumir após ver um vídeo de um homem Trans do Canadá, porque não tinha esse assunto no Brasil, era muito invisibilizado, só cerca de dois anos depois que em uma novela colocaram o assunto. Porém era com uma atriz que era cis e fez o papel de um homem trans, a partir daí é que começou a ser conversado nas casas brasileiras. Então eu descobri muito tarde e sofri muitos anos por achar que eu era o único no mundo. Após muita terapia foi que eu consegui entender e comecei a cuidar de mim. Eu pesava 120 quilos, eu era totalmente relaxado, não cuidava de mim eu não tinha amor com meu corpo. Só quando eu me assumi foi que consegui me amar, quando pude ser “Eu”. Perdi amigos e descobri que existem pessoas ao nosso redor que não estão com você de verdade e até mesmo uma falsa aceitação. Assumi o meu corpo e posso fazer o que eu quiser. Então se assuma, seja quem você é, porque é infinitamente melhor.
SISTA/MS – Que Significa a sigla LGBTQIAP+?
Alex Clemente e João Vilela – Da década de 1980 para o ano de 2022 tivemos várias denominações: GLS (gays, lésbicas, bissexuais e transexuais), GLBT e depois referendada na 1ª Conferência Nacional GLBT no Brasil a troca para LGBT (lésbicas, gays, bissexuais e transexuais) com a inclusão de bissexuais e pessoas Trans. Neste ano passou-se à denominação para LGBTQIAP+. Entenda:
L: Lésbicas - Mulheres (cisgênero* ou transgênero) que se sentem atraídas afetiva e sexualmente por outras mulheres (também cis ou trans). Não precisam ter tido, necessariamente, experiências sexuais com outras mulheres para se identificarem como lésbicas.
G: Gays - Homens (cisgênero – Cisgênero é o indivíduo que se identifica com o seu "gênero de nascença" – ou transgênero) que se sentem atraídos por outros homens (também cis ou trans). Não precisam ter tido, necessariamente, experiências sexuais com outras pessoas do gênero masculino para se identificarem como gays.
B: Bissexuais - Pessoas que se relacionam afetiva e sexualmente tanto com pessoas do mesmo gênero. quanto do gênero oposto (sejam essas pessoas cis ou trans).
T: Transexuais, Transgêneros, Travestis - Este é um conceito relacionado à identidade de gênero e não à sexualidade, remetendo à pessoa que possui uma identidade de gênero diferente do sexo designado no nascimento.
Q: Queer - É um termo da língua inglesa usado para qualquer pessoa que não se encaixe na heterocisnormatividade, ou seja, que não se identifica com o padrão binário de gênero, tampouco se sente contemplada com outra letra da sigla referente a orientação sexual, pois entendem que estes rótulos podem restringir a amplitude e a vivência da sexualidade. O termo “queer”, traduzido para o português, literalmente, quer dizer "estranho", "ridículo" ou "excêntrico", e foi ressignificado pela comunidade, assim como várias outras palavras que antes eram usadas como xingamentos. Também pode significar questioning, referindo-se a corpos que, quando entendem como funciona o sistema, passam a questionar sua posição dentro dele.
I: Intersexo - É uma pessoa que nasceu com a genética diferente do XX ou XY e tem a genitália ou sistema reprodutivo fora do sistema binário homem/mulher. Atualmente, são reconhecidas pela ciência pelo menos 40 variações genéticas, dentre elas XXX, XXY, X0, etc. Ainda é comum a imposição por parte da família, ou prescrição médica, de terapia hormonal e a realização de cirurgia, destinada a adequar aparência e a funcionalidade da genitália, muitas vezes antes dos 24 meses de idade ou até mesmo logo após o nascimento. Contudo, uma parcela significativa das pessoas submetidas a este processo relata que não se adaptaram e rejeitaram o sexo imposto ao nascimento, respaldando uma conduta terapêutica que defende o adiamento da intervenção até que o sujeito possa participar na tomada da decisão.
Essa parte da sigla é muito importante para que nós entendamos que corpo físico não define gênero, nem sexualidade.
A: Assexual - É um indivíduo que não sente nenhuma atração sexual por qualquer gênero. Isso não significa que não possam ter relacionamentos ou desenvolver sentimentos amorosos e afetivos por outras pessoas.
P: Pansexualidade - Pessoas que desenvolvem atração física, amor e desejo sexual por outras pessoas independentemente de sua identidade de gênero. Há controvérsias ainda em relação à diferença entre a bissexualidade e a pansexualidade, porque elas, no fim das contas, querem dizer que uma pessoa se atrai por outra independentemente de seu gênero. A diferença está na identificação de cada indivíduo, podendo este ficar mais confortável em se dizer bi ou pan.
+: Demais orientações sexuais e identidades de gênero - O símbolo de soma no final da sigla é para que todos compreendam que a diversidade de gênero e sexualidade é fluida e pode mudar a qualquer tempo, retirando o “ponto final” que as siglas anteriores carregavam, mesmo que implicitamente.
SISTA/MS – Porque a Drag Queen não faz parte da sigla?
Alex Clemente e João Vilela – O Drag Queen é uma expressão artística, podendo ser performada por mulheres ou homens, cis ou trans, pessoas fora do binarismo de gênero e totalmente independente de orientação sexual.
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