A miscigenação de raças no Brasil contribuiu significativamente para enriquecer a cultura do país. A cultura afro-brasileira disseminada por descendentes de matriz africana permanece viva por gerações. Contudo, as pessoas de raça negra, que constituem a maior parte da população brasileira, ainda vivem na pele a discriminação e o racismo em pleno século XXI. A violência, intolerância religiosa, falta de políticas sociais que atendam às necessidades dos cidadãos negros brasileiros, traz à lembrança a história de um povo sofrido que tem em suas raízes as marcas da escravidão.
Violência
De acordo com um estudo realizado pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), jovens negros com idades entre 18 e 24 anos são mortos por causa indefinida. O pesquisador Antônio Teixeira de Lima Júnior revela que, “entre 2009 e 2013, mais de 11 mil pessoas negras foram mortas pela polícia e essa relação é subnoticiada no país. A morte da juventude negra não gera luto oficial, não gera solidariedade em massa, é como se houvesse um consentimento, uma autorização para que isso aconteça”. No período de 2002 a 2012 morreram 72% mais negros que brancos no Brasil, segundo o Mapa da Violência.
Preconceito
Casos de artistas e pessoas comuns que sofreram ataques de discriminação e racismo nas redes sociais e locais públicos têm aumentado a visibilidade para o problema. No futebol, Mário Lúcio Duarte Costa, o Aranha, em agosto de 2014 foi chamado de macaco pela torcida do Grêmio e vaiado durante noventa minutos em outra partida no mês de setembro. Na Espanha, jogaram uma banana para Daniel Alves. Em 2015, a jornalista da Rede Globo, Maria Júlia Coutinho e a atriz Taís Araújo sofreram ataques verbais em perfis de redes sociais. A estudante do curso de Medicina da Universidade Federal do Recôncavo Baiano, Débora Reis, publicou em seu perfil que uma senhora na fila de um correspondente bancário disse que ela não tinha “cara de médica”. “Minha nora também faz medicina, mas ela tem cabelos lisos, olhos claros e é bem branquinha. Geralmente quem faz esses cursos se veste de outra forma e hoje em dia até filho de faxineiro pode estudar”, teria dito a mulher. A jornalista brasiliense Cristiane Damascena publicou uma foto no Facebook e também recebeu comentários agressivos.
São inúmeros casos inacreditáveis de racismo e discriminação no Brasil todos os dias.
Também fazem parte dos problemas vivenciados cotidianamente pela população negra no Brasil os rolezinhos, onde jovens negros da periferia são constrangidos a não frequentar espaços antes exclusivos dos brancos como shoppings; linchamentos por motivação de racismo (em 2014 foram registrados mais de 1.950 – IPEA) e a polêmica da maioridade penal (redução de 18 para 16 anos) que visa punir adolescentes pobres, em sua maioria negros.
Intolerância Religiosa
As práticas religiosas dos povos afro-brasileiros traduzem o resgate de cultos africanos realizados por seus antepassados. São conhecidos no Brasil o Candomblé, na Bahia e em outros estados; o Xangô, em Pernambuco, Alagoas e Sergipe; a Umbanda, no Rio de Janeiro, Minas Gerais e outros estados; o Tambor de Mina, Tambor de Nagô e Canjerê, no Maranhão; a Cabula, no Espírito Santo, e o Batuque ou Pará, no Rio Grande do Sul, onde também recebe a denominação de Nação.
De acordo com o Ipea, a intolerância religiosa passou a ser tratada como política de Estado apenas em 2007, encontrando muitos empecilhos para efetivação “especialmente pelo racismo presente nos imaginários construídos sobre estas religiões”. A denúncia contra a intolerância religiosa é importante e tem aumentado de acordo com a Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República de 109 em 2012, para 149 em 2014.
Garantir que cada pessoa pratique ou professe sua fé é dever do Estado.
(Fonte: Fasubra)