No Brasil a cada 2 minutos 5 mulheres são espancadas; A cada 11 minutos uma mulher é estuprada; A cada uma hora 503 mulheres sofrem violência e a cada 2 horas uma mulher é morta. Em Mato Grosso do Sul já foram registradas 4 assassinatos de mulheres, vítimas de violência doméstica este ano, contra 16 mortes no ano passado. Esses dados, estarrecedores, foram apresentadas pela delegada Ariene Nazareth Murad de Souza, da Delegacia Especializada de Atendimento à Mulher de Campo Grande, durante palestra sobre “Violência doméstica e a lei Maria da Penha”, promovido pelo Sista-MS (Sindicato dos Trabalhadores em Educação da Fundação Universidade Federal de Mato Grosso do Sul e Institutos Federais de Ensino de MS), em homenagem ao mês da mulher.
A palestra foi no auditório da FAODO, na UFMS e contou com a participação de servidoras públicas da universidade, do HU, institutos federais de ensino e da comunidade em geral.
A direção do Sista-MS vem trabalhando esse assunto desde 8 de março, Dia Internacional da Mulher, por considerar esses números da violência vitimando as mulheres, “inconcebíveis” e “inaceitáveis” em tempo algum da história da humanidade, ainda mais agora, em pleno século 21. “As mulheres e a sociedade não podem permanecer calados diante de números tão sérios. Precisamos realizar trabalhos para que esses números sejam conhecidos, criticados e anulados”, comenta, indignada, a coordenadora geral do Sista-MS Cléo Gomes.
Na sua palestra, a delegada comentou sobre a Lei Maria da Penha, sancionada em 10 de agosto de 2006. Ela foi criada em homenagem a Maria da Penha Maia Fernandes, que foi vítima de violência doméstica praticada por seu esposo, o qual tentou assassiná-la duas vezes, primeiro ele a deixou paraplégica após um tiro, na segunda, tentou eletrocutá-la no chuveiro. A lei tem o objetivo de prevenir e coibir a violência de gênero (submissão da mulher em relação ao homem), protegendo as relações afetivas tanto daqueles que moram juntos, quanto de namorados, os transexuais com identidade de gênero feminina e também as relações homo afetivas em que a mulher é vítima.
Ariene Nazareth apresentou também uma pesquisa online com jovens de 16 a 24 anos de ambos os sexos realizada pela Data Popular e Instituto Avon de 2014, que apontou que 3 em cada 5 mulheres jovens já sofreram violência em relacionamentos; Metade sofreu violência após o fim da relação; 37% tiveram relações sexuais forçadas sem proteção; Um em cada 4 homens já repassaram imagens de mulheres nuas sem consentimento delas a terceiros.
“A agressão começa verbalmente e sempre evolui para agressão física e termina com um homem amoroso e carinhoso prometendo que vai mudar, e o ciclo da violência começa novamente. A mulher está envolvida psicologicamente e não consegue romper esse ciclo”, explica a delegada Ariene.
Presente na palestra, a jovem B.O.S. de 28 anos contou sua história de violência doméstica e explicou sobre o ciclo da violência dizendo o quão é difícil quebrar este ciclo e denunciar. Segundo ela, o problema normalmente começa com um relacionamento abusivo envolvente em que a pessoa se sente muito amada pelo agressor que parece estudar a vítima. Depois ele começa fazer com que ela se sinta dependente dele como se ele fosse o melhor, um círculo vicioso, e quando decide tomar uma atitude começam as agressões e a vítima se sente bloqueada emocionalmente para agir de maneira adequada.
A Auxiliar de Enfermagem S.C.C.L. afirmou que participou da palestra “para saber mais a respeito da violência doméstica e me atualizar”. Ela enalteceu a iniciativa do Sista-MS de promover o evento e o considerou muito importante para que as mulheres tomem conhecimento e se alicercem na tomada de decisão contra qualquer assédio ou outro ato de violência que estejam sofrendo em qualquer ambiente de sua vida.
Cléo Gomes, organizadora do evento, disse que “é a favor do Empodeiramento das mulheres, inclusive na política e que são elas, as mulheres, quem devem fazer leis de apoio à mulher. Os homens não podem decidir isso por nós”.
Sobre as 16 mulheres foram mortas em Mato Grosso do Sul em 2017, a delegada de polícia informou que nenhuma dessas mulheres havia feito BO (boletim de ocorrência) anteriormente. “Isso ressalta ainda mais a importância da denúncia. o silencio mata. Todos nós, como cidadãos, devemos contribuir e muitas vezes falar pelas mulheres agredidas. Faço um apelo para que a população denuncie”, acrescentou a policial. No ano passado quase 5 mil mulheres receberam medida protetiva em MS e mais de 50% delas têm de 18 a 34 anos.
O Sista-MS vai continuar desenvolvendo atividades em favor das mulheres tanto no mercado de trabalho como nos lares onde, infelizmente, muitas continuam sofrendo (caladas) violência doméstica, com abusos de toda ordem. O sindicato coloca seu telefone para receber qualquer denúncia de mulheres: 3387-4163.
[caption id="attachment_11111" align="aligncenter" width="500"] Delegada Ariene, no centro, entre coordenadores do Sista-MS[/caption]Copyright © 2023 Sista-MS. Todos os direitos reservados