Por Celia Regina do Carmo [1]Quando o SISTA me procurou confesso que me perguntei: do que falar? E o que tenho a comemorar?
Nesses últimos meses, com eleições e copa mundial de futebol, fiquei pensando o quanto de importância a mídia deu para tais questões como racismo, violência, xenofobia, etc. Nada ou quase isso. Se bem que as grandes corporações informativas não se preocupam com tal.
Corre que o respeito é coisa que anda desarticulada do convívio popular em nossos dias e pensar que poderia falar sobre tanta coisa, mas como tempo urge devo focar em algo. Isso posto, elejo uma temática: porque só falamos sobre determinadas questões no dia 13 de maio ou no dia 20 de novembro?
Sabemos que o 13 de maio foi um engodo que historicamente foi contado socialmente para demonstrar a bondade de nossos governantes à época. Aprendemos nos bancos escolares que o 13 de maio foi determinante para a libertação de todo um povo, mas como falar em liberdade quando as pessoas que vivenciaram essa situação foram simplesmente jogas ao léu. Com a libertação começa-se a formação de uma classe social ainda mais espoliada do que a dos pobres da época. Pessoas que não tinham onde morar nem como se sustentar. Os demais brasileiros não contratavam seus serviços, preferindo a mão de obra de estrangeiros que adentravam o país em busca de melhores condições de vida.
A dimensão que tenho desse feito, o 13 de maio, é de que hoje a pobreza tem cor!
Agora chegando ao 20 de novembro temo em dizer que embora as políticas reparadoras desenvolvidas nos últimos 12 anos tenham melhorado a qualidade de vida da população negra no nosso país, há muito que fazer. A Secretaria Especial de Políticas de Promoção da Igualdade Racial e a Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da Republica desenvolvem programas e ações de combate a discriminação, porém nem sempre essas ações alcançam todas as esferas do poder público.
É notório o extermínio de jovens negros e negras nas periferias das grandes cidades, sem falar no gritante apelo de uma mídia ultrapassada que tenta induzir os/as cidadãos/cidadãs a fazerem justiça com as próprias mãos contra uma parcela que vive a margem da nossa sociedade. Agora pergunto qual é a cor dessa parcela da sociedade? Obviamente de predominância negra.
Então como tentar melhorar essas relações étnicas ou etnicorraciais?
Hoje, além da parte técnica com que trabalho na UFMS, também desenvolvo pesquisas em Comunidades Quilombolas e atuo na Formação Continuada de Professores na Temática Educação para as Relações Etnicorraciais.
Na pesquisa tento melhorar meus conhecimentos sobre a constituição dessas Comunidades, através de suas lutas, que em alguns momentos ainda são necessárias, para a permanência na terra.
Na formação continuada tento socializar com os cursistas essas experiências de pesquisa e de como podemos inserir conteúdos relacionados com a diversidade étnica e o combate a discriminação que temos em nosso país nos conteúdos curriculares das escolas.
Parto do princípio que todos somos preconceituosos, em graus diferentes, mas diante do que se apresenta socialmente o fortalecimento de nossas diversas identidades só pode ser adquirido com a demonstração de respeito ao próximo em todos os níveis de vivência.
Então sinto que ainda não temos nada a comemorar e como significado desse e de outros 20 de novembro temos muito que lutar para diminuir as desigualdades e os preconceitos, até mesmo os nossos.
[1] Graduada em Pedagogia e Técnica Administrativa da CED/PREG/UFMS